segunda-feira, 12 de maio de 2008

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Fonte: Arca Brasil (http://www.arcabrasil.org.br)


Taboão: dez anos depois
Programa símbolo da proteção animal luta contra ameaça de retrocesso


Taboão da Serra entrou para a história como o município pioneiro a implementar um eficiente projeto de controle de natalidade e posse responsável de cães e gatos, cuja preocupação alcançava os proprietários, em especial aqueles da comunidade mais carente. O movimento, que deu o exemplo a muitas cidades e teve desdobramentos fundamentais para o movimento da proteção animal, agora corre risco de um retrocesso. Acompanhe nesta que é a quarta reportagem sobre a história da ARCA Brasil

A população de Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, situado a 20 quilômetros da capital paulista, convive com contrastes radicais. A sexta maior causa de mortalidade em 2007 foram as doenças infecciosas e parasitárias, o que pode evidenciar certo descaso político com saneamento básico. Nas pesquisas e artigos científicos da área de veterinária e zoonoses, no entanto, o município marca presença como exemplo a ser seguido, sempre com referências ao trabalho desenvolvido na cidade em 1996, com assessoria da ARCA Brasil. Com uma proposta inédita no país – atuar nas raízes do abandono e do sofrimento de cães e gatos –, o projeto congregou, de maneira oficial e coordenada, os setores da saúde pública, veterinária, educação e sociedade como um todo. Reconhecido em seu pioneirismo e importância pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em seis anos, o projeto esterilizou quase 13 mil animais, cerca de 30% da população estimada do município – um recorde nacional.

Taboão entrou para a história da proteção animal porque a administração municipal da época acreditou na importância de investir em programas preventivos de controle populacional animal, ao contrário de outras cidades e inclusive da capital paulista, que na ocasião não se interessou pelo projeto. A veterinária Márcia Maria Cavaleiro se instalou na cidade em 2001 e já conhecia a “boa fama” do local em relação à preocupação com os animais. “Por isso, logo me engajei no programa”, conta.

O projeto que Márcia cita e que ainda mantém Taboão como referência, hoje se sustenta graças à persistência de um grupo de veterinários da cidade – como ela - que continua trabalhando para que cães e gatos tenham uma vida digna longe do abandono.

Os profissionais garantem a castração de animais a preços baixos, cabendo à unidade de zoonoses local o fornecimento de material para as cirurgias. Os veterinários retiram kits cirúrgicos junto à prefeitura ao apresentarem relatórios e fichas a cada 20 clientes atendidos. “Essa força de vontade dos veterinários em beneficiar a sociedade é uma atitude praticamente isolada por parte daqueles que viram o movimento de 1996 e sabem da efetividade dele”, diz a médica veterinária Regina Zanelato, com clínica no município.
A cirurgia de castração custa R$ 30 para gatos, R$ 40 para gatas, R$ 55 para cadelas e a partir de R$ 45 para cães, dependendo do peso.
(Em Guaxupé os valores cobrados pelos veterinários são superiores porque não há parceria com o poder público para aquisição do kit de medicamentos)

Sonho real
De 1996 ao ano 2000, o Programa de Controle das Populações de Cães e Gatos aliou esse cuidado oferecido nas clínicas a oito mutirões periódicos e gratuitos de castração. Em cada mutirão eram castrados, em média, 120 animais. As cirurgias eram feitas por veterinários voluntários, entre eles professores das Universidades de São Paulo (USP), Paulista (Unip), Metodista, entre outras,que garantiam a qualidade, higiene e técnica adequada, supervisionada pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo. “Foi muito benéfico para a população, para a cidade e para os profissionais da área”, conta Regina.

O apoio dado pela prefeitura veio graças ao empenho de outra veterinária, a doutora Rita Garcia que, na época, era a responsável pelo departamento de controle de zoonoses do município. Posteriormente, a veterinária tornou-se diretora da ARCA Brasil, contribuindo de forma decisiva para os projetos e eventos inéditos da entidade.

Depois desse período, até 2004, o projeto evoluiu e ganhou um posto permanente, que funcionava uma vez por semana e castrava, por dia, cerca de 30 animais de famílias carentes. A medida, indispensável para controle da natalidade animal, era apenas um dos benefícios que a população carente tinha acesso, gratuitamente. Os cães e gatos eram também registrados, identificados, vacinados e vermifugados, com a distribuição de material explicativo sobre posse responsável desses animais. E, mais importante, qualquer morador do município tinha direito aos serviços, mediante apresentação nas clinicas do comprovante de residência, a preços com redução de até 70%. “Foi um momento inédito, o mais próximo que se chegou a um programa de primeiro mundo”, relembra Marco Ciampi, presidente da ARCA Brasil.

Cidadania devolvida
Os estudantes da rede pública recebiam gratuitamente em suas escolas um material ilustrado sobre o tema da superpopulação e posse responsável de cães e gatos. Concomitantemente, as crianças com necessidades especiais recebiam atendimento terapêutico com animais, sob supervisão da reconhecida psicóloga e veterinária, Hanelore Fuchs, com resultados surpreendentes.

Uma iniciativa deste porte trouxe melhorias não apenas aos animais, mas também aos munícipes de Taboão da Serra. A conscientização sobre a importância do controle populacional dos animais despertou nas mulheres da comunidade carente, em especial, a sensibilidade para perceber que não só cães e gatos merecem esse e outros cuidados para uma melhor qualidade de vida, mas seus filhos também. A partir daí, muitas manifestaram o desejo de adotar medidas contraceptivas.

Em 2004 houve mudança do poder político municipal e o posto foi fechado”, desabafa Regina. Outra veterinária de Taboão, Rosana Pellegrino Miranda, diz que ainda que o programa no passado fosse mais completo do que hoje, ainda assim é válido. “Hoje ainda castramos muitos animais, mas está longe do que foi. O importante é que não perdemos a esperança de que voltaremos a fazer algo maior pelos cães e gatos”, diz. A médica veterinária Márcia Cavaleiro também se orgulha do que faz. “É muito importante para a cidade, mas há pessoas que nem o mínimo cobrado podem pagar. Então não seria nada mal que ainda tivéssemos a oportunidade de oferecer a cirurgia de castração gratuitamente para quem pudesse comprovar que não tem meios de pagá-la”, afirma.

Em 2005, a população de Taboão da Serra, SP, ultrapassava 221 mil habitantes. Para Guaxupé, com aproximadamente 50 mil, certamente o investimento seria bem menor e o resultado ainda mais positivo e eficaz. Então, como temos modelos para serem seguidos, constatamos o que nos falta: BOA VONTADE DOS DIRIGENTES MUNICIPAIS.